Hoje, publicamos uma entrevista efectuada ao ex-treinador do FC Porto por um 'blog' (butecodoflamengo.blogspot.com) de adeptos afectos ao Flamengo. A torcida do clube do Rio de Janeiro ainda hoje não esquece Yustrich, um dos mais marcantes e conceituados guarda-redes (e também treinador) de toda a história daquele clube brasileiro.
O que pouca gente sabe é que Yustrich chegou a cursar até ao terceiro ano de Agronomia.
- Enquanto eu cursava Agronomia, Heleno de Freitas fazia Direito. Ambos estudávamos em Niterói e ele se formou, mas eu tive que desistir e mudar afinal de profissão.
Apesar das referências ao FC Porto serem muito breves (na entrevista, Yustrich recorda apenas o regresso do clube aos títulos, em 1955/56, e também se associa à conquista da Taça de Portugal de 1957/58, apesar do FC Porto, no Jamor, já ter sido orientado por Otto Bumbel), a iniciativa dos adeptos do Flamengo merece o nosso elogio e apreço.
Aqui fica a entrevista (em português do Brasil) e algumas fotos de Yustrich enquanto guarda-redes do Flamengo (reparem que era um 'keeper' altíssimo!):
Natural de Corumbá, Mato Grosso, Dorival Knippel herdou esse sobrenome porque por parte de pai descendia de avós alemães. E aos 6 meses de idade, apenas, foi trazido pelos pais, ao Rio e entregue aos seus tios, que passaram a criá-lo e educá-lo.
Ao atingir os 7 anos, o menino Dorival já era órfão de pai e mãe. Começou a estudar no colégio 'José de Alencar', no Largo do Machado, onde completou o primário. Depois fez os dois primeiros anos ginasiais, no Ginásio Lafaiete e os restantes como interno do Instituto João Alfredo.
- Yustrich, quando foi que você deixou de ser o Dorival Knippel para se tornar simplesmente o Yustrich que hoje o Brasil inteiro conhece?
- Yustrich, quando foi que você deixou de ser o Dorival Knippel para se tornar simplesmente o Yustrich que hoje o Brasil inteiro conhece?- Aconteceu aos 15 anos quando, trocando de posição, comecei a jogar como goleiro (guarda-redes) pelo Andaraí.
- E a origem do apelido?
- Pouco antes tinha passado pelo Rio uma equipa argentina com um goleiro que o meu técnico, Hermógenes, achou que eu parecia. Fosse pelo porte, fosse pelo facto de que resolvi usar também um boné de pano parecido com o que ele usara, naquela época. Não importam os detalhes, pois o importante foi que o apelido pegou e eu passei a ser Yustrich para todos e para sempre...
Sócio do Flamengo desde menino, ainda da época da Rua Paissandu, Yustrich foi escuteiro rubro-negro e aos 13 anos tornou-se 'center-half' titular do quadro infanto-juvenil. Nessa época, era 'pivot', jogava no meio do campo e ainda nem pensara em se tornar o goleiro que mais tarde conquistaria o campeonato de 1939 pelo Flamengo e alcançaria também a façanha do primeiro tricampeonato rubro-negro. Durante todo o tempo em que defendeu o Flamengo, Yustrich teve a dirigi-lo apenas dois técnicos: Flávio Costa e Doris Kruschener e nos 8 meses de Vasco da Gama, seu único treinador foi Ondino Viera.
O que pouca gente sabe é que Yustrich chegou a cursar até ao terceiro ano de Agronomia.- Enquanto eu cursava Agronomia, Heleno de Freitas fazia Direito. Ambos estudávamos em Niterói e ele se formou, mas eu tive que desistir e mudar afinal de profissão.
- Porquê?
- Porque depois do 3º ano eu teria, obrigatoriamente, que me transferir para completar o curso em Viçosa. E como jogava futebol no Rio, preferi não ir e cursei, então, a Escola Nacional de Educação Física da Praia Vermelha, pela qual me diplomei.
- E o início da sua carreira de técnico? Como foi?
- Fui convidado pelo Coronel Macedo Soares, àquela época Director Técnico da Companhia Siderúrgica Nacional, para organizar o Parque Esportivo de Volta Redonda. E passei exactamente 1 ano organizando tudo. Quando o Parque Esportivo estava em pleno funcionamento, cessaram os meus compromissos e retornei ao Rio. Era Polícia Especial, aqui, mas como esse não era o meu ideal, já que desejava seguir carreira como técnico de futebol, aceitei um convite que me foi feito pelo meu velho e grande amigo Fernando César Pereira (também compositor famoso), para ser o representante comercial da firma Carlos Pereira Produtos Químicos, em Belo Horizonte. Aceitei e assim já em 1948 iniciava como técnico do América, na capital mineira.
Desde então, diversos têm sido os clubes pelos quais Yustrich passou, como treinador, sempre calcando a sua filosofia de trabalho em dois pontos básicos: uma disciplina rígida e uma preparação física o mais próxima possível da perfeição, com seus comandados tendo de levar a vida regrada de atletas profissionais que se dedicam integralmente à observância de todas as suas obrigações contratuais.
- Em Minas Gerais só não dirigi o Cruzeiro. Levei o América à conquista do campeonato, em 1948, depois de longos 17 anos divorciado do título, como se encontrava o tradicional clube mineiro. Dirigi o Atlético ao qual dei dois títulos, o Vila Nova, e levei também o Siderúrgica, ao qual tive a felicidade de conduzir ao título máximo, depois de 27 anos que ele não era campeão.
Pequena pausa e uma referência directa sobre a primeira experiência internacional que fez como técnico:
- Foi em 1955, quando me transferi para o FC Porto, que havia 17 anos não era campeão de Portugal e conquistou o título na temporada de 55-56 e também a Taça de Portugal. Voltei para a temporada de 57-58 e estava na liderança do certame até quando só já nos faltavam dois jogos, para alcançarmos o título. Infelizmente, não o logramos, mas alcançamos logo em seguida a conquista da Taça de Portugal.
- E no Rio, Yustrich?
- Aqui eu dirigi o América na época em que Wolnei Braune era o presidente. Recuperei alguns jogadores e lancei outros, acreditando que valia a pena recordar alguns nomes como os do goleiro Ari, do zagueiro Jorge, do meio-campo Amaro e dos atacantes Calazans e Canário, este até vendido ao futebol da Espanha, por bom preço. Essa mesma equipa rubra, por sinal, acabou por se sagrar campeã carioca no ano seguinte, em 1960.
- E depois?
- Dirigi o Bangu, mas somente durante uma excursão ao exterior. O alvir-rubro precisava de um técnico diplomado para viajar para a Europa e os Estados Unidos, contratando os meus serviços.
- Esquecia-me que, antes disso, quando saí do América fui para o Vasco, clube ao qual dirigi tecnicamente durante apenas 8 meses, deixando-o pronto com a sucessão presidencial.
- Esquecia-me que, antes disso, quando saí do América fui para o Vasco, clube ao qual dirigi tecnicamente durante apenas 8 meses, deixando-o pronto com a sucessão presidencial. A maior satisfação
- Se outra coisa eu não tivesse conseguido ou não vier a alcançar, no futebol carioca, a minha maior satisfação foi a de haver provocado uma profunda modificação na forma de sua disputa. O futebol carioca era extremamente lento, até que eu cheguei para o Flamengo. Então a velocidade com que a equipa rubro-negra começou a jogar a todos assustou e não houve outro caminho a seguir, para os outros clubes, senão o de se prepararem para jogar do mesmo jeito, na base da extrema rapidez exigida pelo futebol moderno. De resto, a minha consciência me assegura que tentei dar o máximo de mim, diariamente, para proporcionar ao clube e à massa de torcedores do rubro-negro — já que ninguém é mais Flamengo do que eu, como torcedor! — tudo o que eles merecem.
Yustrich passava seis dias da semana trabalhando em regime de tempo integral no Flamengo, mas no dia 26 de Maio acabou deixando a Gávea. Seu nome continuará sendo discutido, pois afinal assim tem sido toda sua vida.
Amigo Ricardo Vara.
ResponderEliminarYustrich, sempre foi um nome muito polemico. Homem de personalidade muito forte que nao agradava nem a Deus e nem ao diabo.
Torcedor do Flamengo fanatico, pelo menos essa grande qualidade ele tinha.
Parabens pelo Blog e desejo muito sucesso.