domingo, 17 de janeiro de 2010

«Curiosidades FCP» - ‘Mou’ e o FC Porto

Apesar da ‘birra de Gelsenkirchen’, Mourinho continua a manter um carinho especial pelo FC Porto. Isso ficou bem evidente na última entrevista que o ex-treinador do FC Porto concedeu à imprensa portuguesa.
Hoje, vamos aqui recordar alguns excertos (os que dizem respeito ao FC Porto e à sua passagem pelo clube) da extensa conversa que José Mourinho manteve com o jornalista do «Expresso», Nicolau Santos. Aqui fica:
- É possível chegar ao topo mesmo sem os recursos financeiros das grandes equipas europeias, como fez no FC Porto?
- É possível. O FC Porto foi um exemplo perfeito de como construir uma equipa. O FC Porto construiu um centro de estágios. Depois, pensou num treinador, em mim. Deu-me confiança, tempo, condições para exercer a minha liderança a todos os níveis. Em seguida, pensou, ou pensámos, numa cultura - e a cultura que pensámos foi uma maioria de jogadores portugueses. E o clube teve condições para contratar os melhores portugueses que jogavam em Portugal. Chegámos ao Nuno Valente e ao Derlei, do Leiria, ao Paulo Ferreira, do Setúbal, ao Pedro Emanuel, do Boavista. Depois jogámos uma Taça UEFA, que foi utilizada por nós para fazer crescer a equipa. O facto de a termos ganho foi consequência do trabalho fantástico que fizemos. Depois entrámos na ‘Champions’ com a filosofia para o exterior de "vamos ver até onde chegamos" e para o interior de "podemos ganhar a qualquer um". E foi assim que, com dois anos e meio de trabalho, com princípios muito claros da relação de trabalho entre a equipa técnica, o departamento médico e o departamento de imprensa, com tudo perfeitamente definido, aquela vitória foi possível. É mais possível uma vitória seguindo estes moldes do que uma vitória gastando dinheiro.
- Quando se chega a um determinado patamar de rendimento, os jogadores continuam a importar-se quando perdem ou tanto lhes faz?
- Não acredito muito nisso. Há é modos diferentes de reagir. Há quem chore muito em momentos difíceis da vida e quem chore pouco ou não chore e, se calhar, viva esses momentos com mais intensidade. É uma questão de personalidade.
Recordo um Jorge Costa ou um Vítor Baía, que quando os encontrei no FC Porto já estavam no final das suas carreiras, e ninguém trabalhava mais do que eles, ninguém queria ganhar mais do que eles.
- Qual a importância do presidente de um clube? E qual o que mais o marcou?
- Do italiano não falo, porque é a situação actual. O presidente do FC Porto é o melhor presidente com que se pode trabalhar. Porquê? Porque sabe onde deve estar, quando deve estar, o que deve dizer, quando dizer. Sabe tudo. Se calhar fui eu que tive a sorte de o apanhar numa fase da sua carreira de grande maturidade, de grande experiência, se calhar foi sempre assim, mas para mim era o presidente perfeito. Porquê? Porque me deu todas as condições que eu solicitei, porque me deu todo o apoio durante o processo e porque é o tipo de presidente que facilita muito a função do treinador líder. Não digo o treinador técnico ou táctico, porque isso cada um será à sua maneira e de acordo com o seu potencial. Mas, para o treinador líder, ter um presidente adaptado à sua própria mentalidade e ao seu estilo de actuação é muito mais fácil. E eu devo dizer que com o senhor Pinto da Costa foi muito fácil trabalhar.
- Qual foi o melhor capitão que teve nas equipas que liderou?
- Todos. Ganhei sempre. Ganhei no Leiria com o Bilro como capitão, porque estar no Leiria em terceiro ou quarto lugar em Dezembro foi ganhar. Ganhei no FC Porto com o Jorge Costa como capitão. Ganhei no Chelsea com o John Terry como capitão. Ganhei no Inter com o Zanetti como capitão. Não tenho um único capitão perdedor, um único capitão duma equipa que não ganhou.
- Nesta década, qual foi o melhor guarda-redes que conheceu?
- O melhor guarda-redes que conheci foi o Vítor Baía. Na última década talvez não, porque já não joga há dois ou três anos, já era suplente do Helton na última época. Mas não vejo nenhum melhor que ele. Aqui, temos tido sempre guarda-redes de qualidade, aliada à qualidade do treinador deles, o Silvino: o Vítor foi eleito connosco o melhor guarda-redes da Europa, o Petr Cech também, o Júlio César foi eleito no ano passado o melhor guarda-redes de Itália num campeonato onde joga o Buffon... Melhores que estes não recordo muitos...
- O melhor defesa?
- O melhor defesa, por potencial e considerando qualidades físicas, tácticas e técnicas, é o John Terry. Acho que é o melhor de todos. Mas o Jorge Costa foi meu capitão. Deu-me muito. E ganhámos muito. Sendo um jogador menos dotado - Deus deu-lhe menos do que deu a John Terry -, era daqueles defesas insuperáveis.
- No meio-campo?
- No meio-campo, também com um potencial inferior a tantos daqueles de que fui treinador, há um que não me esqueço, porque era o meu ponto de equilíbrio, a minha referência, o meu pêndulo: o Costinha, que ainda por cima marcou um golo histórico para todos, que nos deixou às portas de conseguir coisas importantes. Mas Frank Lampard é um jogador do outro mundo. O número de golos que marca como jogador do meio-campo, o número de jogos que efectua sem lesões, sem castigos, a regularidade, mas a regularidade para cima, faz dele um jogador impressionante.
- E melhor avançado?
- Melhor avançado, melhor avançado... Tive sempre avançados importantes. Escolho um que não é o melhor pelo potencial, mas escolho um: Derlei. Fez coisas no Leiria que nos projectaram para o FC Porto. E fez coisas no FC Porto absolutamente incríveis, desde o golo que nos deu a vitória na Taça UEFA, que eu continuo a dizer que é a vitória mais importante da minha carreira, até à maneira como conseguiu recuperar de uma lesão gravíssima ainda a tempo de jogar as meias-finais e a final da Champions, à maneira como motivava e arrastava companheiros em campo... Claro que Deus lhe deu menos do que deu ao Drogba, inclusive ao Benny McCarthy... Mas, para mim, Derlei é o avançado mais marcante da minha carreira. E não estou a meter o Inter em nada disto, para não ferir susceptibilidades.

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