terça-feira, 21 de setembro de 2010

«Curiosidades FCP» - A chegada de Madjer a Portugal

Hoje, recordamos a chegada ao FC Porto do argelino que marcou para sempre o nosso futebol: Rabah Madjer.
Fez, no passado dia 8 de Setembro, 25 anos que Madjer pisou pela primeira vez o Aeroporto Francisco Sá Carneiro. Aproveitando esse facto, o jornal ‘i’ entrevistou o ex-jogador do FC Porto. Aqui fica essa interessante e divertidíssima conversa entre o jornalista do ‘i’ e o homem do ‘calcanhar de Viena’:
- Boa tarde Madjer. Falo de Portugal.
- Boa tarde, amigo. Tudo bem?
- Tudo. Sabe que dia é amanhã?
- 8 de Setembro.
- Isso não lhe diz nada?
- Hãããã... Que falta um mês para eu chegar a Portugal. De férias.
- Pronto, isso é agora. Mas a 8 de Setembro de 1985, o Madjer aterrou no Porto pela primeira vez. Lembra-se? - Sim, claro, no Aeroporto Sá Carneiro. Cheguei com o Lucídio Ribeiro, empresário português que trabalha muito no mercado francófono. Estava um dia cinzento.
Fui para o hotel e daí para o Estádio das Antas, para ver o FC Porto-Penafiel [3-1, com golos de Semedo, Gomes e João Pinto] onde conheci toda a gente. Houve logo química: o presidente Pinto da Costa, Lima Pereira, André, Frasco, Gomes, Futre, Eduardo Luís, Jaime Magalhães, João Pinto, Juary. Tudo gente cinco estrelas.
- E Artur Jorge?- Também, também. Grande senhor do futebol.- Mas vocês tiveram os vossos problemas.- Sim, mas problemas com solução. Por muito bom que seja o espírito de uma equipa de futebol, e o FC Porto era como uma família, há sempre alguém às turras com alguém. Ou o presidente com o treinador ou o jogador com o treinador. São coisas que vão e vêm. E passam. Quando havia esses ‘stresses’, nada melhor que ir almoçar ou jantar.
- Mas isso não se faz diariamente?- Não, digo almoçar ou jantar com a malta amiga. Nesses casos de ‘stresse’, organizávamos excursões à Póvoa de Varzim para comer e relaxar. O André era o líder espiritual desses convívios.

- O André era também o mais divertido do plantel, sempre bem disposto e a contar anedotas. Como o Lima Pereira, outro capitão dentro e fora do campo e sempre pronto a comandar as suas tropas [risos]. Como o Futre, jovem e irreverente como só ele sabia. Resumindo: se houvesse algum ‘stresse’ comigo, eles resolver-me-iam a situação num abrir e fechar de olhos.Percebes?
- Claro. E porquê Póvoa de Varzim?- Invenções do André [risos]. Ele é de lá. Amigo, havia lá um restaurante fantástico. Não me perguntes o nome que não me lembro.- E lembra-se de como entrou na equipa do FC Porto?- Sim, sim. Muito bem. O primeiro jogo foi no Estádio da Luz, com o Benfica, na festa de inauguração do Terceiro Anel. Um jogo particular e empatámos 0-0. A estreia oficial foi também em Lisboa, mas no Restelo. Ganhámos 3-2 ao Belenenses e eu fiz duas assistências para o Gomes. Depois, recebemos o Sporting e vencemos 2-1. Até que veio o tal jogo que me desbloqueou, no Bessa. Foi 2-1 para nós e eu marquei os dois golos, os da reviravolta [Casaca fizera o 1-0]. Pronto, a partir daí, ninguém mais me agarrou.
- Só na Póvoa de Varzim.- Pois é. Olha, daqui a um mês lá estarei. Ao volante do meu Toyota.

- Qual? Aquele que ganhou em Tóquio?
- Esse mesmo. Na final da Taça Intercontinental 1987, fui eleito o melhor em campo e ganhei um carro. Levei-o do Japão para Portugal e desde então nunca mais me desfiz dele. Está lá, guardado na garagem da minha casa, em Vila Nova de Gaia. Tenho o mesmo carro há 23 anos e está como novo. Nunca me deu problemas. Nem um! As marcas japonesas são, de facto, do mais fiável que há. Mas isto é só com carros. Porque já viste o tempo que estava em Tóquio naquele dia? Tudo menos fiável. Na véspera, nublado. No dia do jogo, nevava, nevava, nevava e não parava de nevar. Aquilo era impressionante. E eu que nunca tinha jogado na neve. Nem eu, nem os outros.- Nesse jogo marcou o golo da vitória.- Um grande chapéu quase do meio-campo. Foi o golo que mais prazer me deu, porque significou o título mundial. Mas não foi o mais bonito. Esse foi o de calcanhar...
- Com o Bayern?- Não. A piada é essa. O melhor golo de calcanhar não foi esse, embora seja o mais falado em todo o mundo, porque foi numa final e com o poderoso Bayern. Hoje, se falarem de um golo à Madjer, todos sabem como é. Da mesma forma que ninguém esquece o slalom do Maradona com a Inglaterra em 1986 ou o penálti à Panenka em 1976. Mas a seguir à Taça dos Campeões, ganhámos 7-1 ao Belenenses [26 de Agosto de 1986, primeira jornada do campeonato nacional, na estreia de Rui Barros pelo FC Porto e de Marinho Peres como treinador dos azuis do Restelo], marquei três golos, o último deles de calcanhar, mais bonito que o de Viena. Sabes porquê?
- Não. - Do cruzamento do Jaime Magalhães, recebi a bola com o pé esquerdo e dei com o calcanhar direito.- Mas então esse golo vi-o há poucos dias, na internet.- A sério? Não pode ser. Onde?- No YouTube.- Espera aí, vou buscar papel e caneta para anotar o endereço [espera]. Diz-me lá.- É só ir ao site do YouTube e escrever "fc porto belenenses 7-1".- Mas isso é fantástico. Já ganhei o dia. Obrigado. Vou já rever esse golo. Tenho-o na memória. Agora vou copiá-lo para o computador. E posso mostrar aos meus amigos. Eles não acreditam em mim. Dá para acreditar nisso?

1 comentário:

FCPKaricas disse...

Engraçado... Andei cerca de 20 anos também com esta certeza... Que as pessoas falavam do calcanhar mágico, mas que "eu tinha a certeza que ele tinha marcado um melhor" dizia eu... Mas por nunca mais ter visto este golo, até fiquei na duvida se ele realmente tinha acontecido ou não, mas cá está, a certeza pela melhor pessoa que o podia dizer... E sendo eu um poveiro de gema e habitante desta linda cidade, cá vou eu andar de olhos em "bico" à procura de um carro japonês para ver se encontro o tal "gajo" do calcanhar... :)

Cump para todos.