quinta-feira, 22 de outubro de 2009

«Curiosidades FCP» - A homenagem da torcida do Flamengo a Dorival Yustrich

O 'Paixão pelo Porto' vai continuar a recordar um dos técnicos mais carismáticos de sempre da história do FC Porto: Dorival Yustrich.
Hoje, publicamos uma entrevista efectuada ao ex-treinador do FC Porto por um 'blog' (butecodoflamengo.blogspot.com) de adeptos afectos ao Flamengo. A torcida do clube do Rio de Janeiro ainda hoje não esquece Yustrich, um dos mais marcantes e conceituados guarda-redes (e também treinador) de toda a história daquele clube brasileiro.
Apesar das referências ao FC Porto serem muito breves (na entrevista, Yustrich recorda apenas o regresso do clube aos títulos, em 1955/56, e também se associa à conquista da Taça de Portugal de 1957/58, apesar do FC Porto, no Jamor, já ter sido orientado por Otto Bumbel), a iniciativa dos adeptos do Flamengo merece o nosso elogio e apreço.
Aqui fica a entrevista (em português do Brasil) e algumas fotos de Yustrich enquanto guarda-redes do Flamengo (reparem que era um 'keeper' altíssimo!):
Natural de Corumbá, Mato Grosso, Dorival Knippel herdou esse sobrenome porque por parte de pai descendia de avós alemães. E aos 6 meses de idade, apenas, foi trazido pelos pais, ao Rio e entregue aos seus tios, que passaram a criá-lo e educá-lo.
Ao atingir os 7 anos, o menino Dorival já era órfão de pai e mãe. Começou a estudar no colégio 'José de Alencar', no Largo do Machado, onde completou o primário. Depois fez os dois primeiros anos ginasiais, no Ginásio Lafaiete e os restantes como interno do Instituto João Alfredo.
- Yustrich, quando foi que você deixou de ser o Dorival Knippel para se tornar simplesmente o Yustrich que hoje o Brasil inteiro conhece?
- Aconteceu aos 15 anos quando, trocando de posição, comecei a jogar como goleiro (guarda-redes) pelo Andaraí.
- E a origem do apelido?
- Pouco antes tinha passado pelo Rio uma equipa argentina com um goleiro que o meu técnico, Hermógenes, achou que eu parecia. Fosse pelo porte, fosse pelo facto de que resolvi usar também um boné de pano parecido com o que ele usara, naquela época. Não importam os detalhes, pois o importante foi que o apelido pegou e eu passei a ser Yustrich para todos e para sempre...
Sócio do Flamengo desde menino, ainda da época da Rua Paissandu, Yustrich foi escuteiro rubro-negro e aos 13 anos tornou-se 'center-half' titular do quadro infanto-juvenil. Nessa época, era 'pivot', jogava no meio do campo e ainda nem pensara em se tornar o goleiro que mais tarde conquistaria o campeonato de 1939 pelo Flamengo e alcançaria também a façanha do primeiro tricampeonato rubro-negro. Durante todo o tempo em que defendeu o Flamengo, Yustrich teve a dirigi-lo apenas dois técnicos: Flávio Costa e Doris Kruschener e nos 8 meses de Vasco da Gama, seu único treinador foi Ondino Viera.
O que pouca gente sabe é que Yustrich chegou a cursar até ao terceiro ano de Agronomia.
- Enquanto eu cursava Agronomia, Heleno de Freitas fazia Direito. Ambos estudávamos em Niterói e ele se formou, mas eu tive que desistir e mudar afinal de profissão.
- Porquê?
- Porque depois do 3º ano eu teria, obrigatoriamente, que me transferir para completar o curso em Viçosa. E como jogava futebol no Rio, preferi não ir e cursei, então, a Escola Nacional de Educação Física da Praia Vermelha, pela qual me diplomei.
- E o início da sua carreira de técnico? Como foi?
- Fui convidado pelo Coronel Macedo Soares, àquela época Director Técnico da Companhia Siderúrgica Nacional, para organizar o Parque Esportivo de Volta Redonda. E passei exactamente 1 ano organizando tudo. Quando o Parque Esportivo estava em pleno funcionamento, cessaram os meus compromissos e retornei ao Rio. Era Polícia Especial, aqui, mas como esse não era o meu ideal, já que desejava seguir carreira como técnico de futebol, aceitei um convite que me foi feito pelo meu velho e grande amigo Fernando César Pereira (também compositor famoso), para ser o representante comercial da firma Carlos Pereira Produtos Químicos, em Belo Horizonte. Aceitei e assim já em 1948 iniciava como técnico do América, na capital mineira.
Desde então, diversos têm sido os clubes pelos quais Yustrich passou, como treinador, sempre calcando a sua filosofia de trabalho em dois pontos básicos: uma disciplina rígida e uma preparação física o mais próxima possível da perfeição, com seus comandados tendo de levar a vida regrada de atletas profissionais que se dedicam integralmente à observância de todas as suas obrigações contratuais.
- Em Minas Gerais só não dirigi o Cruzeiro. Levei o América à conquista do campeonato, em 1948, depois de longos 17 anos divorciado do título, como se encontrava o tradicional clube mineiro. Dirigi o Atlético ao qual dei dois títulos, o Vila Nova, e levei também o Siderúrgica, ao qual tive a felicidade de conduzir ao título máximo, depois de 27 anos que ele não era campeão.
Pequena pausa e uma referência directa sobre a primeira experiência internacional que fez como técnico:
- Foi em 1955, quando me transferi para o FC Porto, que havia 17 anos não era campeão de Portugal e conquistou o título na temporada de 55-56 e também a Taça de Portugal. Voltei para a temporada de 57-58 e estava na liderança do certame até quando só já nos faltavam dois jogos, para alcançarmos o título. Infelizmente, não o logramos, mas alcançamos logo em seguida a conquista da Taça de Portugal.
- E no Rio, Yustrich?
- Aqui eu dirigi o América na época em que Wolnei Braune era o presidente. Recuperei alguns jogadores e lancei outros, acreditando que valia a pena recordar alguns nomes como os do goleiro Ari, do zagueiro Jorge, do meio-campo Amaro e dos atacantes Calazans e Canário, este até vendido ao futebol da Espanha, por bom preço. Essa mesma equipa rubra, por sinal, acabou por se sagrar campeã carioca no ano seguinte, em 1960.
- E depois?
- Dirigi o Bangu, mas somente durante uma excursão ao exterior. O alvir-rubro precisava de um técnico diplomado para viajar para a Europa e os Estados Unidos, contratando os meus serviços.
- Esquecia-me que, antes disso, quando saí do América fui para o Vasco, clube ao qual dirigi tecnicamente durante apenas 8 meses, deixando-o pronto com a sucessão presidencial.
A maior satisfação
- Se outra coisa eu não tivesse conseguido ou não vier a alcançar, no futebol carioca, a minha maior satisfação foi a de haver provocado uma profunda modificação na forma de sua disputa. O futebol carioca era extremamente lento, até que eu cheguei para o Flamengo. Então a velocidade com que a equipa rubro-negra começou a jogar a todos assustou e não houve outro caminho a seguir, para os outros clubes, senão o de se prepararem para jogar do mesmo jeito, na base da extrema rapidez exigida pelo futebol moderno. De resto, a minha consciência me assegura que tentei dar o máximo de mim, diariamente, para proporcionar ao clube e à massa de torcedores do rubro-negro — já que ninguém é mais Flamengo do que eu, como torcedor! — tudo o que eles merecem.
Yustrich passava seis dias da semana trabalhando em regime de tempo integral no Flamengo, mas no dia 26 de Maio acabou deixando a Gávea. Seu nome continuará sendo discutido, pois afinal assim tem sido toda sua vida.

1 comentário:

Rocco Fermo disse...

Amigo Ricardo Vara.

Yustrich, sempre foi um nome muito polemico. Homem de personalidade muito forte que nao agradava nem a Deus e nem ao diabo.
Torcedor do Flamengo fanatico, pelo menos essa grande qualidade ele tinha.

Parabens pelo Blog e desejo muito sucesso.