Aproveitamos o clássico entre Benfica e FC Porto para recordar duas figuras que foram protagonistas de muitos jogos disputados entre os dois clubes: Artur Jorge (disputou clássicos do lado Benfica e do FC Porto, enquanto jogador e enquanto treinador) e Emil Kostadinov, o búlgaro que no início dos anos 90 deixava os estádios da Luz e de Alvalde em pânico com as suas famosas arrancadas.
Começamos por recordar Artur Jorge (que hoje confessa ser portista!) numa entrevista que o treinador que levou o FC Porto ao seu primeiro título europeu concedeu ontem ao jornal 'i'. Aqui ficam alguns interessantes excertos:
Como treinador, Artur Jorge deu nas vistas no FC Porto, campeão europeu em 1987, e ajudou a afundar o Benfica na maior crise de títulos. É o único homem à face da terra que jogou no FC Porto e no Benfica, e que treinou os dois rivais. O 'i' entrevistou-o a propósito do clássico de amanhã. «Sou portuense e portista», apresenta-se o treinador, nascido na cidade do Porto há 63 anos.
- Como jogador e como treinador, soma 42 clássicos. Lembra-se da estreia? - Sim, em 1964/65, na minha única época sénior pelo FC Porto. Empatámos (1-1) e o Eusébio foi expulso. E na primeira-parte (38 minutos). Se não me engano, foi a única expulsão da carreira dele.
(...)
Repare, eu sou portuense e portista. Como a minha família. Nasci no Porto e cheguei a ver, veja lá bem, jogos na Constituição (campo do FC Porto, de 1912 a 1952). Lembro-me nitidamente de um FC Porto-Oriental e eu lá todo espremido entre os adeptos, que, não sendo muitos, entre 4 a 5 mil, enchiam aquele campo e conferiam uma atmosfera especial. Também vi jogos no Estádio do Lima (só utilizado para jogos grandes por ter mais lugares que o da Constituição).
Nessa altura, o FC Porto nem sempre era a terceira potência do futebol português. Agora, com o passar dos anos, com o Estádio das Antas, com o Dragão, com o centro de estágio do Olival, percebemos a real dimensão do clube. No meu tempo de criança ninguém sonhava sequer que o FC Porto pudesse ser campeão europeu. Quando muito campeão nacional e...
Agora é uma máquina que não vai parar. Se for travada, será um dano insignificante como uma folha de papel contra um 'Fórmula 1'.
Num futuro próximo, de 10, 20 anos, o FC Porto nunca perderá com o Benfica como em 1972 (6-0!). Posso dizer que ao jogar nessa tarde dos 6-0 fiz parte de uma história irrepetível.
Num futuro próximo, de 10, 20 anos, o FC Porto nunca perderá com o Benfica como em 1972 (6-0!). Posso dizer que ao jogar nessa tarde dos 6-0 fiz parte de uma história irrepetível.
- Sendo adepto do FC Porto, como era marcar ao clube do coração pelo Benfica?
- Na altura, a rivalidade entre os dois não tinha o peso de agora. Aliás, os Benfica-FC Porto dos últimos anos são como os Benfica-Sporting de há 30 anos, em importância. São esses os jogos grandes da Liga. Na altura em que marcava golos ao FC Porto, pelo Benfica, preocupava-me com outras coisas.
(...)
- Como é que leva o FC Porto ao paraíso, com o título europeu, e desce ao inferno no Benfica?
- Ahhh isso,... Sabe, não gosto muito de falar nisso. Para mim, uma equipa precisa de tempo e organização. O FC Porto deu-me isso. Havia jogos em 1984 ou 1985 em que pressentia que aquela equipa ía ser imbatível a todos os níveis, como aconteceu em 1987. O Benfica pediu-me isso,... para ontem!
Quis fazer uma equipa e comecei pela baliza. Trouxe o Preud'homme, mas a engrenagem não funcionou. Há pessoas boas e más. Há dirigentes competentes, outros nem tanto. Há os que remam para a mesma direcção e os da contracorrente. Enfim,...
- Mas essa estrutura aconselhável no FC Porto também lhe deu dissabores. Naquele FC Porto-Benfica, em Abril de 1991, resolvido pelo César Brito, nunca vi o Artur Jorge tão fora de si.
- Mas essa estrutura aconselhável no FC Porto também lhe deu dissabores. Naquele FC Porto-Benfica, em Abril de 1991, resolvido pelo César Brito, nunca vi o Artur Jorge tão fora de si.
- Por mais calmos que estejamos, acabamos por perder a cabeça. Vi um cartão amarelo (de Carlos Valente) porque estava nervoso com o fiscal-de-linha, mas ele portou-se mal durante todo o jogo, assinalando foras-de-jogo indevidamente. Mas são já situações antigas que não vale a pena esmiuçar agora. Tudo isso pertence à história e nem vale a pena falar, porque é uma porcaria.
- O clássico dá a volta à cabeça?
- Sem dúvida. Lembro-me de um jogo na Supertaça (1994) em que houve cinco expulsões (Nelo, Abel Xavier e João Vieira Pinto, para o Benfica, mais Rui Filipe e Secretário para o FC Porto). Por isso, só peço correcção e bom futebol neste encontro. Os espectadores merecem isso. É o mínimo.
Quem ainda chegou a ser orientado por Artur Jorge foi Emil Kostadinov. O rapidíssimo avançado búlgaro já fazia parte do plantel em 1990/91, aquando da segunda passagem de Artur Jorge pelo FC Porto como treinador.
Em cima, recuperámos duas fotos, do clássico disputado naquela época no antigo Estádio da Luz, onde surge o fantástico avançado do FC Porto.
Em cima, recuperámos duas fotos, do clássico disputado naquela época no antigo Estádio da Luz, onde surge o fantástico avançado do FC Porto.
Os dois clubes defrontaram-se na Luz na primeira volta do campeonato, tendo o FC Porto "arrancado" um empate (2-2) no estádio do seu eterno rival. O Benfica, de Sven-Goran Eriksson, esteve por duas vezes em vantagem, mas o FC Porto conseguiu empatar o clássico já muito perto do final. Os encarnados começaram por marcar primeiro, ainda durante a primeira-parte, num cabeceamento do central brasileiro Ricardo Gomes. Na segunda-parte, Domingos empatou o jogo, mas Rui Águas, que representara o FC Porto nas duas épocas anteriores, colocaría novamente o Benfica em vantagem. Tudo terminou com o golo de Kostadinov, que voltou a igualar o jogo perto do final.
Nessa partida, Artur Jorge já apostou na célebre sociedade Domingos-Kostadinov, um dupla que marcou uma época no FC Porto e no futebol português.
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