A presença de Jesualdo Ferreira em Nyon, para mais um Fórum de Treinadores da UEFA, é pretexto para abordarmos um facto a que muitos treinadores não dão o devido valor e reconhecimento, o do FC Porto ser uma grande mais-valia para os seus currículos.
Houve uma altura, principalmente nos anos 60 e 70, que acontecia exactamente o inverso, ou seja, era o FC Porto que, na ausência dos títulos, beneficiava do facto de técnicos muito conceituados, como Ettore Puricelli (campeão ao serviço do AC Milan), Ferdinand Daucík (bi-campeão no Barcelona), Janos Kalmar (orientou o campeoníssimo Honved de Budapeste, nos anos 50), Tommy Docherty (orientou o Manchester United, a Selecção da Escócia e o Chelsea, entre outros) e Aymoré Moreira (campeão do mundo pelo Brasil, em 1962), entre outros, sempre terem mostrado disponibilidade para orientar o clube sem aquela estabilidade e cultura de vitória que o FC Porto conquistou nos últimos 30 anos.
Infelizmente, nessa altura o FC Porto não conseguiu retribuir com aquilo que hoje em dia mais valoriza o currículo de um treinador, os títulos. Se recuarmos mais de 20 anos, chegamos à conclusão que houve treinadores que, ao serem escolhidos pelo FC Porto, lhes viram ser atribuídos autênticos 'jackpots'. Veja-se, por exemplo, os casos de Artur Jorge e José Mourinho.
Apesar de sempre ter sido muito elogiado por José Maria Pedroto, o treinador que levou o FC Porto a Viena chegou ás Antas depois de deixar o comando técnico do Portimonense, clube ao serviço do qual conquistou dois modestos 6º lugares nos campeonatos nacionais de 1981/82 e 1982/83, e uma presença nas meias-finais da Taça de Portugal, em 1982/83. Quanto a José Mourinho, também não havia garantido nenhum título enquanto técnico principal. O único feito do treinador que levou o FC Porto a Gelsenkirchen foi ter colocado o atrevido U. Leiria no 3º lugar do campeonato. Ou seja, estes dois técnicos portugueses chegaram ao FC Porto sem nenhum troféu conquistado e sairam como campeões da Europa, o que lhes permitiu realizar contratos milionários com o Matra Racing de Paris, no caso de Artur Jorge, e com o Chelsea, no caso de Mourinho.
Apesar de estes serem os casos mais evidentes da mais-valia que os treinadores obtêm quando orientam o FC Porto, há exemplos a que podemos recorrer que provam que o FC Porto tem oferecido aos seus técnicos muito mais do que aquilo que estes lhe têm retribuído.
Aos exemplos dados anteriormente, podemos juntar Carlos Alberto Silva (apesar de ter chegado ao FC Porto com alguns títulos conquistados, pois foi campeão no Brasil, ao serviço do Guarani e do São Paulo, e no Japão, ao serviço do Yomiuri Kawasaki), Fernando Santos (foi o FC Porto que lhe abriu as portas do estrangeiro depois da conquista do «Penta»), Bobby Robson (chegou ao FC Porto já como um treinador conceituado e com vários títulos conquistados, mas conseguiu valorizar-se ainda mais e realizar o melhor contrato da sua vida, ao assinar pelo Barcelona, em 1996), Co Adriaanse (antes de chegar ao FC Porto garantira apenas a subida à Primeira Liga holandesa do PEC Zwolle e do FC Den Haag, e a presença nas meias-finais da Taça UEFA, com o AZ Alkmaar) e até Rui Barros (no único jogo oficial que efectuou como técnico principal venceu logo um troféu, a Supertaça Cândido de Oliveira).
É pena que alguns treinadores não reconheçam (não é o caso de Jesualdo!) que foi o FC Porto que lhes deu margem e condições para poderem treinar nos melhores campeonatos da Europa. Orientar o FC Porto tornou-se um "selo de garantia"!
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