Hoje recordamos algumas curiosidades associadas ao mítico «carregador de piano» do FC Porto: André. O seu percurso no futebol, e na vida, é ainda hoje um exemplo para todos os jovens que um dia sonham em chegar a um grande clube. Nascido em Caxinas (Vila do Conde), numa família de pescadores, foi com naturalidade que o jovem André se viu, desde muito cedo, envolvido na actividade piscatória. A sua juventude foi muito complicada porque a necessidade de ajudar a numerosa família obrigou-o a abdicar dos estudos e, por vezes, a ter de arriscar a própria vida.
«Nasci em Caxinas, numa grande família de pescadores, de 8 filhos, 3 raparigas e 5 rapazes. Dos 10 aos 16 andei no barco do meu pai, que também era criança quando entrou na vida de pescador. Não gostava daquela vida, ingrata, lixada, de muitos sacrifícios, por isso fiz tudo para a abandonar. Quando ia para longe e puxavam os temporais, assustava-me, maldizia aquela vida de muita miséria e muitos riscos, mas até a isso nos habituávamos depressa, mesmo vendo, quase todos os anos, colegas a serem engolidos pelo mar ou a morrerem à entrada da barra da Póvoa sem que ninguém pudesse salvá-los.»
André viu no futebol uma fuga ao tormento do mar. Sendo natural de Vila do Conde, não foi surpreendente que, aos 14 anos, tenha começado a jogar futebol no Rio Ave. Contudo, nem sempre podia comparecer aos treinos porque a vida de pescador continuava e era preciso ajudar a alimentar a família. Com a compreensão e ajuda do pai, André acabou por continuar a jogar e assinar pelo vizinho Varzim. «Assinei o primeiro contrato como profissional com 17 anos de idade, por indicação de António Teixeira, e fui logo campeão nacional da II Divisão. Recebi 4 contos de ordenado. Ganhava mais no mar, mas os meus pais viram que eu tinha mesmo vontade de ser futebolista e ajudaram-me. Acabei o primeiro contrato (que era de um ano) e pedi mais uma verbazinha. Não ma deram e fiquei à boa vida, porque nos clubes onde fui treinar-me não agradei. Um ano depois fui para o Ribeirão, que ajudei a subir da I Divisão Distrital à III Divisão Nacional. O Varzim voltou a contratar-me, a tropa prejudicou-me, não tinha hipóteses de ser titular e fui emprestado ao Ribeirão. Regressei no ano seguinte. Tinha uma força de vontade de vencer no futebol... Para o mar não queria voltar mais!»
Com o Varzim a disputar a I Divisão, André passou a ser seguido de outra forma pelos clubes de topo. Apesar de ser um jogador relativamente baixo, o seu estilo guerreiro chamou logo a atenção da crítica que o considerava o pulmão da equipa do Varzim. Os bons tempos que André passou na Póvoa ainda hoje são recordados pelo ex-jogador do FC Porto com emoção e saudade. André nasceu a 24 de Dezembro de 1957 (véspera de Natal) e o Varzim foi fundado a 25 de Dezembro de 1915. «Sou mais novo do que o Varzim quarenta e dois anos e um dia», lembra com orgulho.Um dos primeiros a reparar nas qualidades do jovem trinco do Varzim foi José Maria Pedroto. O ex-treinador do FC Porto chegou a tentar contratá-lo quando orientava o Vit. Guimarães. No entanto, como André ainda estava vinculado ao Varzim por mais uma época, os clubes acabaram por não chegar a acordo. Uns anos mais tarde, confessaría que uma das maiores mágoas da sua carreira foi não ter tido a oportunidade de ser orientado pelo "Mestre".
Como só chegou ao FC Porto em 1984/85, André já não teve o privilégio de privar com José Maria Pedroto. Contudo, no FC Porto acabou por encontrar o treinador que mais o marcou: Artur Jorge. Quando terminou a carreira, André chegou a considerá-lo um dos melhores treinadores do Mundo, «senão mesmo o melhor».André estreou-se pelo FC Porto em 1984/85 num jogo contra o Penafiel. No início dessa época, o FC Porto viu Sousa e Jaime Pacheco seguirem para Alvalade. Apesar de muito lamentada, a saída dos dois jogadores deixou em aberto dois lugares no meio campo do FC Porto. A partir daí, André passou a jogar com mais regularidade e foi sem surpresa que garantiu o 'lugar 6' à frente da defesa do FC Porto.
Depois de debutar na Liga portuguesa, seguiu-se a estreia nas competições europeias, frente ao Ajax, a 18 de Setembro de 1985, na 1ª mão da 1ª eliminatória da Taça dos Clubes Campeões Europeus (vitória do FC Porto por 2-0, com golos de Laureta e Celso). No entanto, André só atingiría o auge do seu percurso europeu em 1986/87. Nessa época, o trinco do FC Porto foi fundamental na caminhada até à final de Viena. Além das excelentes exibições que realizou durante essa campanha, ainda marcou alguns golos que foram decisivos para o FC Porto chegar à final. O «carregador de piano» começou por marcar dois golos na goleada (9-0) imposta aos malteses do Rabat Ajax, logo na 1ª eliminatória. Seguiu-se novo golo na 2ª ronda da prova, desta vez ao abrir o marcador na 2ª mão da eliminatória frente ao Vitkovice. O último golo que marcou nessa edição da TCE ficou guardado para a recepção ao Dinamo de Kiev. Jogava-se a 1ª mão da meia-final e André abriu o marcador de penalti (em cima, na foto) depois de uma mão na bola do russo Andrei Bal. A verdadeira glória chegaría umas semanas depois, quando atingiu, e venceu, a Final da Taça dos Clubes Campeões Europeus. Foram 30 anos, do nascimento, em Caxinas, até Viena.
1 comentário:
Muitos parabéns por este blogue sobre também o meu clube, um clube que dá lições de vida e ensina miúdos a serem homens. Como caxineiro que sou jamais esqueço os caxineiros que passaram pelo nosso clube e ficaram na história do futebol português.
Atentamente,
www.caxinas-a-freguesia.blogs.sapo.pt
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